Especial: A infografia vai salvar o jornalismo?
(Por Alessandra Kalko, Editora de arte de la revista Mundo Estranho, Brasil) Continuando a discussão levantada por Javier Errea anteriormente sobre “Por qué la infografía salvará al periodismo” gostaria de colocar algumas idéias e pontos que observei ao longo de 6 anos como editora de arte da revista.
Não sei se a infografia é a grande salvação do jornalismo impresso.
Não vejo a infografia como a grande cura milagrosa para a queda das vendas, mas mais como um dos remédios que pode prolongar sua vida com melhor qualidade. O bom uso deste instrumento pode ajudar a manter os leitores fiéis de mais idade e atrair os leitores jovens que estão cada vez mais imersos num mundo eletrônico, de informações simultâneas e se afastando da leitura.
Em 2007, ano em que muitas revistas viram seus números de venda caírem a Mundo Estranho apresentou algum crescimento nas vendas. Nossos leitores são jovens de 12 a 20 anos, imersos em sites de relacionamento, tv e games que são apaixonados pela revista. Muitos deles afirmam que a Mundo Estranho é o único meio impresso que lêem por vontade própria, quando não o único.
Desde o princípio nós fizemos da infografia o carro chefe da revista. Mais de 1/3 do total de nossas páginas são infografadas. É um trabalho árduo e para poucos mas que tem gerado bons resultados. Nossos leitores adoram os infográficos.
A infografia tem um apelo gráfico forte e sedutor com esse leitor jovem. A função principal da infografia, a meu ver é, sem dúvida, a de facilitar a vida do leitor. Quando bem feita é de fácil compreensão. Os textos em forma de legenda, aliados às imagens são mais amigáveis para ele (acostumado com um bombardeio de informações simultâneas) do que um texto linear e longo.
Vale aqui o comentário da conversa que tive com Rodrigo Ratier (ex-editor da Mundo Estranho e atual editor da Superinteressante:
"Em seu clássico livro A obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica, Walter Benjamin nos alerta para as mudanças que a disseminação do cinema causaram no sensorium das massas, que se modificou pelo amplo acesso a estímulos visuais (os filmes), que substituiu o acesso restrito às obras de arte plástica que ficavam restritas aos museus. Penso que a internet, o computador com seus sistemas de janelas e a linguagem rápida e fragmentada dos videoclips acentuaram essa tendência. Não dá para continuar fazendo jornalismo como no século 19. A infografia, creio, é um dos caminhos para a manutenção adaptada de algo que é a razão mesma de ser de jornais e de revistas: a capacidade de comunicação com seu leitor, um indivíduo cada vez mais multitarefa, visualmente estimulado e com tempo disputado com diversas outras fontes de atração."
"Por outro lado, não se trata de mera imitação do que já fazem outros meios. Ao contrário, a infografia impressa pode manter – e por que não, ampliar – duas características que a maioria dos estudiosos afirma ainda serem exclusivas (ou, ao menos, mais bem executadas) pelos meios impressos do que por seus concorrentes: a saber, as capacidades de contextualização e de reflexão de um fato."
Como Javier Errea falou, muitos adeptos da infografia clássica talvez se revirem ao ver nossas páginas. Mas nós acreditamos que cada infográfico deve ter o apelo visual que o tema pede e o apelo emocional que o leitor consegue dar conta de absorver.
É um instrumento que deve ser usado com sabedoria, quando necessário e não sem critério pois corre o risco de se banalizar. Não é decoração de espaço em branco na página, é informação. Infografia mal feita não enche a barriga do leitor. Ele tem que terminar de (V/L)ER um infográfico e se sentir satisfeito. Informado. Contextualizado. Refletido.
A infografia não está morta. O caminho não é romper com o passado e recomeçar do zero.
Acredito que a solução seja tentar se libertar um pouco do jeito ortodoxo e da linguagem asséptica de se fazer infografia. Por que ter tantas amarras? Tantos “do’s” and “dont’s”?
Sim, as regras básicas de qualquer layout de página devem ser mantidas: hierarquia de informação, ordem de leitura, “show, don’t tell”…
Mas devemos abrir o coração e a cabeça para novas linguagens, que vão falar melhor com seu público.
É possível criar uma personalidade forte e comunicar mesmo com uma linguagem variada e eclética.
Mas como entregar algo a mais para o leitor na notícia que ela já viu na internet?
Como fazer o leitor comprar o jornal no dia seguinte e ainda se sentir atraído?
Existem várias maneiras e caminhos de adaptar a atual infografia.
Linguagens variadas, outros jeitos de editar, gráficos de análise e comparação da atual notícia com o passado ou previsões para o futuro, pautas adiantadas que podem ser trabalhadas com mais cuidado… O importante é sempre pensar no que você pode entregar a mais para o leitor. Ele é o principal objetivo. Não existe infográfico que não dê trabalho. Não existe infográfico bem feito se você não gosta de infografia. É importante saber quando quebrar as amarras, quando ser convencional.
É necessário que o raciocínio visual esteja presente desde o momento de concepção da pauta para poder fazer as escolhas mais apropriadas.
É essencial montar uma equipe versátil e tentar mudar um pouco a divisões de trabalho buscando profissionais que pensem no todo e não só na sua parte.
A palavra chave da infografia é “integração” . Arte + texto = infográfico.
A equipe tem que ser um equipe. Encarregados do texto devem pensar também como designers e os designers, como editores de texto. Em equipe é possível dar passos maiores e observar os saltos de evolução e amadurecimento do trabalho.
Não é só a infografia que ganha com isso. O leitor sai feliz, E por conseguinte o jornalismo impresso ganha também.
Se a infografia é a tábua de salvação, não posso afirmar. Mas acredito na infografia como a grande porta de entrada para o leitor jovem iniciar a leitura do jornal ou da revista que muitas vezes lhe parece hostil. Se ele gostar, se for prazeroso, ele voltará. Os infográficos bem feitos serão sempre amigáveis e sedutores. E se eles conquistarem um leitor e ele se fidelizar, mais uma vez ganhamos todos.
Se um dia a revista irá acabar para dar lugar ao nosso site, não sei. Em 2007, o número de leitores do nosso site foi duas vezes maior do que o da revista impressa. Mesmo assim, como já falei anteriormente, os números de venda da revista impressa apresentaram crescimento. É por isso que acredito que nem tudo está perdido para esta mídia…