Durante o processo de redesign do The Guardian, Mark Porter, director criativo do jornal e responsável pela sua renovação, encomendou ao tipógrafo Christian Schwartz e a Paul Barnes, uma família tipográfica, com pesos e variantes suficientes, para usar em todo o jornal.
Pediu-lhes uma fonte "austera mas moderna" e "discreta e elegante". Com "um tom de voz calmo, poucos contrastes entre formas, uma forte influência holandesa, mas mantendo um tom visual inglês".
Inicialmente, a ideia do desenho foi "explorar a tensão que se podia criar, da combinação das terminações em circunferência, de formas suaves e os serifs pontiagudos", trabalhando-os de forma a "dar alguma especificidade e interesse visual à fonte. Manteve-se, ainda assim, a sua voz séria e medida, evitando extremos e tentando evitar texturas tipográficas mais densas como as da Farnham ou Mercury ou a beleza de fontes como a Lexicon".
Inicalmente baptizada com o nome "Stockholm", depois renomeada "Haçienda" (em homenagem ao famoso club-discoteca dos anos 80, em Manchester, cidade original do The Guardian), foi ganhando pesos e variantes, até chegar a formar uma família completa.
A primeira variante desenhada foi a fonte de títulos. Christian descreve-a como "um tipo de desenho aberto que permitiu, muito facilmente, desenhar a correspondente fonte para texto".
Entretanto, à medida que o processo de redesign do The Guardian ia evoluindo, foi-se tornando evidente que, apesar da sua qualidade, aquele tipo de tipografia, não se enquadraria na nova imagem do jornal. Depois de várias tentativas, frustradas, de reajustamento, a fonte foi deixada inacabada e posta de lado.
Dois anos depois, no fim do Verão de 2006, a equipa de Mark Porter, agora responsável pelo redesign do jornal português Público, voltou a contactar a dupla Christian Schwartz/Paul Barnes. Pediu-lhes para "voltarem a olhar para a família tipos Haçienda e tentarem descobrir uma forma de corrigir os seus erros, a resolverem visualmente, segundo a ideia inicial, e terminarem-na como uma família tipográfica completa, no menor tempo possível".
Christian Schwartz diz que "passar algum tempo (dois anos) sem olhar para a fonte, fez maravilhas aos nossos olhos. Quando voltamos a olhar para ela, foi, imediatamente, óbvio que precisava de ter mais chispa e mais força. Decidimos aumentar o contraste e a acutilância dos serifs e jogar com as circonferências suaves das terminações, mantendo o contraste alto, mesmo nos pesos maiores. O resultado é uma família tipográfica séria e elegante com um toque de humor nos seus pesos extra pesados".
O trabalho foi feito em dois meses, coincidindo com o Natal. Foi preciso "redesenhar novamente a fonte de texto, completar a fonte de título itálica e desenhar, do início, a versão light. A dupla de tipógrafos pediu ajuda a Kai Bernau, um jovem designer com formação tipográfica na KABK de Haia, para terminar o projecto a tempo. Schwartz diz que "Kai não tinha muita experiência em tipografia por medida mas o seu talento é enorme e é um trabalhador nato. Não conseguiria ter completado este projecto sem o software Superpolator e à ajuda de Kai Bernau".
Pensada e desenhada especificamente, tal como a sua prima Guardian Egyptian, para ser usada no layout, condições de impressão e leitura específicas, de um jornal, acabou por "não seguir as pistas tradicionais do desenho de tipografias jornalísticas, ganhando assim um aspecto novo e contemporâneo. O único defeito desta fénix tipográfica foi, para Christian Schwartz, "não ter tido tempo suficiente para fazer todos os testes de impressão".
A família tipográfica final, foi acabada em Janeiro de 2007 e rebaptizada Público.