Em 1936, foi lançada em Porto Alegre a Folha da Tarde, conciliando o estilo inglês do Daily Mirror e o formato pequeno do portenho Crítica, o jornal que revolucionou a imprensa argentina, da forma gráfica à linha editorial, a partir de seu aparecimento em 1919 até os anos 60.
Uma viagem a Buenos Aires de um dos diretores de uma empresa jornalística de Porto Alegre foi a inspiração para criar um jornal que circulava às 4 da tarde e tornou-se um mito da imprensa do Rio Grande do Sul, especialmente durante a Segunda Guerra Mundial. Favorecida pelo fuso horário em relação ao front de batalha, a FT transformou os hábitos de leitura e fez do formato tablóide um sinônimo de jornal.
A partir da Folha da Tarde, Porto Alegre só conheceu um formato, tornando-se um mercado original e único no sul do Brasil, país onde predominam os jornais standard em várias cidades. A força do tablóide foi tão avassaladora que nos anos 60, a primeira rede de jornais brasileiros Última Hora criou especialmente para Porto Alegre uma versão tablóide de seu jornal standard, líder no Rio de Janeiro e São Paulo. Última Hora foi pioneira e introduziu a diagramação nas redações brasileiras a partir da importação de artistas gráficos argentinos no fim dos anos 50. Sofreu uma adaptação para tablóide pelas mãos argentinas e gaúchas para ser aceita em Porto Alegre. Depois do golpe militar, UH foi fechada e nasceu Zero Hora, um jornal que aos poucos foi conquistando êxito editorial no conteúdo e no formato fácil de ler e transportar. O mercado do sul do Brasil reagiu da mesma maneira e consagrou definitivamente a fórmula. Concorrentes alteraram o visual e os anos 90 chegaram com os jornais de dimensões modernas conquistando leitores em várias regiões.
Atualmente, o tablóide avança forte nas grandes cidades brasileiras, especialmente no gênero de imprensa popular. Mas o mercado chamado de quality, fortalecido pelos clássicos El Pais, La Repubblica e Clarin nos faz prever que, num futuro bem mais próximo, os grandes títulos brasileiros deverão adotar esse formato, como ocorreu recentemente com o Jornal do Brasil. JB era um standard que virou tablóide, mas que não assumiu por inteiro sua nova face e se intitula ainda berliner.
Esses movimentos do mercado jornalístico garantem que tudo é uma questão de tempo e oportunidade para os leitores serem contemplados com formatos mais práticos e contemporãneos e o tablóide cair no gosto de todos.
A lenda do jornalismo diz que Crítica era conhecida como El Tábano (mosquito em português). Uma explicação claríssima para essa febre. Foi uma picada de mosquito que deu origem a tudo. El Tábano deve estar sobrevoando o mundo do desenho de jornais neste momento.